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Introdução
No dia 27/06/2023, à convite de Edgar Stoever, coordenador da Vistage Paraná, mediarei debate sobre o tema Governança e Sucessão Empresarial. O debate ocorrerá nas dependências do ISAE que gentilmente acolheu essa iniciativa. Será protagonizado por Adonai Aires de Arruda, empresário bastante experiente, André Fauth, executivo com bagagem em empresas de grande porte, muitas delas familiares e André Caldeira, Headhunter especializado em posições de nível estratégico. O evento é destinado a empresários e está sendo preparado com muito cuidado. Minha expectativa é que o debate gere insights e seja rico em partilha pois o tema é altamente relevante. E pela sua importância, estou lendo e compilando informações que julgo importantes e que aqui partilho.
A sucessão empresarial é um processo complexo e delicado que envolve a transferência do comando e controle de uma organização de um líder para seu sucessor. Segundo pesquisa da PwC, “o planejamento da sucessão é uma das questões mais delicadas no Brasil pois apenas 24% das empresas têm um plano de sucessão formal”. Se correlacionarmos com outro dado importante, esse do IBGE (2018) “de cada cem empresas familiares abertas e ativas, apenas trinta sobrevivem à primeira sucessão e apenas cinco delas chegam à terceira”.
Ou seja, essa transição é crucial para a continuidade e sustentabilidade dos negócios e apresenta uma série de desafios que devem ser cuidadosamente abordados. Nesta breve reflexão, apresentarei o que, a meu ver, são dois dos principais desafios da sucessão empresarial, destacando os aspectos comportamentais envolvidos por parte do empresário e dos sucessores, abordando algumas das competências requeridas dos sucessores para ocuparem cargos de alta gestão.
Desafios da sucessão empresarial
A sucessão empresarial enfrenta vários desafios, pois envolve não apenas a transferência de responsabilidades e poder, mas também a preservação da cultura organizacional, a gestão das expectativas dos stakeholders e a manutenção da continuidade dos resultados positivos. Alguns dos principais desafios são:
1. Resistência à mudança: Muitas vezes, o líder fundador ou atual detentor do cargo de gestão é resistente à ideia de deixar o controle da organização nas mãos de outra pessoa. Isso pode resultar em uma transição difícil e desgastante, com consequências negativas para a empresa.
2. Dificuldade em encontrar um sucessor adequado: A identificação e o desenvolvimento de um sucessor competente e alinhado com a visão e os valores da organização podem ser um desafio significativo. Nem sempre os herdeiros têm as habilidades e competências necessárias para liderar efetivamente a empresa.
3. Conflitos familiares: Em empresas familiares, a sucessão muitas vezes envolve conflitos e rivalidades entre os membros da família. Decisões emocionais e pessoais podem sobrepor-se a considerações racionais, o que pode prejudicar a empresa e afetar as relações familiares.
4. Quebra de cultura organizacional: A mudança de liderança pode resultar na perda da identidade e cultura organizacional estabelecidas ao longo dos anos. A manutenção dos valores e princípios fundamentais da empresa durante a sucessão é fundamental para garantir a continuidade do sucesso.
Aspectos comportamentais na sucessão empresarial
Além das competências técnicas e conhecimentos específicos exigidos para o cargo, os sucessores precisam desenvolver e demonstrar certos aspectos comportamentais para serem eficazes como líderes. Alguns desses aspectos incluem:
1. Inteligência emocional: A capacidade de reconhecer e gerenciar as próprias emoções e as emoções dos outros é fundamental para um líder eficaz. A inteligência emocional permite a construção de relacionamentos saudáveis, tomada de decisões equilibradas e comunicação efetiva.
2. Flexibilidade e adaptabilidade: O ambiente de negócios está em constante mudança, e os líderes precisam se adaptar a novas situações e desafios. A flexibilidade mental e a capacidade de se adaptar rapidamente são essenciais para garantir a sobrevivência e o sucesso da empresa.
3. Resiliência: Os líderes enfrentam adversidades e obstáculos ao longo de sua jornada. A resiliência é a capacidade de se recuperar e superar essas dificuldades, mantendo-se focado e motivado para alcançar os objetivos estabelecidos.
4. Habilidades de comunicação: Os líderes devem ser capazes de se comunicar de forma clara e eficaz com todos os níveis da organização, transmitindo sua visão e estratégia. A comunicação aberta e transparente ajuda a construir confiança e engajamento entre os colaboradores.
Competências requeridas dos sucessores
Além dos aspectos comportamentais, os sucessores precisam possuir um conjunto de competências específicas para ocupar cargos de gestão. Algumas competências essenciais incluem:
1. Visão estratégica: Os sucessores devem ser capazes de pensar a longo prazo, identificar oportunidades de crescimento e desenvolver estratégias para a empresa. A capacidade de analisar o mercado, antecipar tendências e tomar decisões estratégicas é fundamental.
2. Capacidade de liderança: Os sucessores devem ser líderes inspiradores, capazes de motivar e engajar as equipes. Eles devem ser capazes de delegar tarefas, desenvolver talentos, resolver conflitos e tomar decisões difíceis.
3. Conhecimento do negócio: É fundamental que os sucessores tenham um profundo conhecimento do setor em que a empresa atua, compreendendo as tendências, desafios e oportunidades. O conhecimento técnico e a experiência prévia são importantes para tomar decisões informadas.
4. Networking e relacionamento interpessoal: Os sucessores devem ser capazes de construir e manter relacionamentos sólidos com clientes, parceiros e stakeholders externos. A capacidade de criar uma rede de contatos e estabelecer parcerias estratégicas é crucial para o sucesso nos negócios.
Conclusão
Não existe dúvida que a sucessão empresarial é um processo desafiador que exige uma abordagem cuidadosa e estratégica. Evidentemente que são muitos os fatores determinantes para o sucesso no processo de sucessão. O que procurei demonstrar aqui é que os aspectos comportamentais, como inteligência emocional, flexibilidade e resiliência, são tão importantes quanto as competências técnicas. Os sucessores devem possuir uma combinação de conhecimentos, habilidades e traços de personalidade para liderar com sucesso a organização. Ao refletir sobre esse assunto, enfrentar de frente esses desafios, a empresa terá maior probabilidade de garantir uma transição com mais suavidade e promover a continuidade dos negócios. Aliando a atenção a esses pontos, contando com um processo de planejamento estratégico amadurecido e complementado com registros de pesquisadores (alguns citados nas referências abaixo), creio que as chances de sucesso tendem a aumentar significativamente.
Referências Bibliográficas:
Diniz, E. (2014). Sucessão empresarial familiar: como planejar essa transição. São Paulo: Atlas.
Castro, M. S., & Schmidt, M. A. (2017). Sucessão em empresas familiares: desafios, dilemas e soluções. São Paulo: Saraiva.
Silva, M. J. C., & Durand, C. (2016). Sucessão e governança em empresas familiares: boas práticas para a continuidade do negócio. São Paulo: Atlas.
Souza, L. M. (2013). Sucessão familiar: um desafio na gestão de empresas familiares. São Paulo: Saraiva.
Tachizawa, T., & Ferreira, V. G. (2014). Sucessão em empresas familiares: um olhar sobre a prática e os dilemas do processo sucessório. São Paulo: Atlas.